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‘Surto’ de Covid na Reserva de Dourados preocupa lideranças e soma quase 80 infectados

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‘Surto’ de Covid na Reserva de Dourados preocupa lideranças e soma quase 80 infectados

04 novembro 2021 – 17h53Por Thalyta Andrade

Um surto de casos de Covid-19 tomou conta das aldeias Jaguapiru e Bororó, em Dourados, com uma soma de 79 casos positivos ativos até a noite de quarta-feira (3/11), segundo informações do MPF (Ministério Público Federal) repassadas por uma liderança indígena para a reportagem do Dourados News.

Os dados foram apresentados diretamente às lideranças da reserva pelo procurador geral da República em Dourados, Marco Antônio Delfino de Almeida, que acompanha de perto a situação.

No total, dos 79 casos confirmados até o fim da noite de quarta (3), 10 geraram internações. São cinco pessoas em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e cinco em leitos de enfermaria.

Um dos quadros de saúde mais graves é de uma professora da Escola Estadual Indígena Guateka Marçal de Souza, na aldeia Jaguapiru, que está internada em uma vaga de UTI em unidade de saúde de Ponta Porã.

Diretamente ligados ao surto que começou nas escolas da reserva (relembre aqui), são 34 casos positivos. Foram realizados um total de 450 testes, sendo aproximadamente 260 deles de pessoas diretamente ligadas à alunos, professores, servidores das escolas e seus familiares.

Um comitê emergencial foi formado com representantes da saúde municipal, estadual e também federal representado pelo Dsei (Distrito Especial de Saúde Indígena), para acompanhar a situação e tomar providências de contenção.

Dourados News tentou contato direto por telefone com o procurador da república, Marco Antônio Delfino de Almeida, para mais detalhes sobre a situação. Mas, até o momento da publicação desta reportagem, não houve retorno.

No entanto, no áudio encaminhado pelo procurador ontem à noite para lideranças, ao qual a reportagem teve acesso, ele detalhou além dos números, também quais as necessidades mais urgentes identificadas mediante o cenário crítico. A baixa oferta de testes para identificar casos positivos e encaminhar os infectados para o devido acompanhamento e isolamento é um dos pontos.

“Em relação aos encaminhamentos há uma série de questões que têm que ser alteradas no Dsei. Por exemplo, a questão da testagem. Uma disponibilização maior de pessoas nos postos para realização de testagem e isso deve começar a ocorrer já a partir de amanhã [esta quinta-feira]. Igualmente uma intervenção da Vigilância Sanitária Municipal, há uma resistência infelizmente […] é algo extremamente complicado, todos sabem que nós tivemos que judicializar a questão do Samu para que houvesse atendimento. No caso da Vigilância Sanitária me parece que uma medida nesse sentido também terá que ser tomada. Vamos aguardar até amanhã [esta sexta-feira, dia 5]”, explicou.

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Uma nova reunião do comitê emergencial deve acontecer nesta sexta-feira (5) para estabelecer novas providências para contenção do surto.

As aulas nas unidades de ensino das aldeias e também na Escola Aurora Pedroso de Camargo, no Parque Alvorada, onde três alunos indígenas testaram positivo para a Covid, foram suspensas no dia 28 de outubro (relembre aqui) e seguem desta forma, inicialmente, até dia 8.

Conforme informação da assessoria de comunicação da Prefeitura de Dourados repassada à reportagem, a Semed (Secretaria Municipal de Educação) aguarda uma orientação da Vigilância Epidemiológica Municipal para estender ou não essa suspensão das atividades.

“Nas duas reuniões houve um alinhamento e protocolo de ações entre a Vigilância Epidemiológica Municipal e o Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) para que as ações possam ocorrer de forma mais coordenada. E obviamente que só veremos um resultado disso nos próximos dias. Nesta sexta-feira uma nova avaliação será feita e até o momento as aulas permanecerão suspensas”, disse Delfino no áudio enviado às lideranças da reserva.

“Situação está bem crítica e não temos suporte suficiente”, afirma liderança

Dourados News conversou com Ivan Ávila da Silva, liderança da aldeia Jaguapiru. Segundo ele, as lideranças da reserva estão preocupadas com o avanço da onda de contaminação e também com as providências de suporte que, na avaliação da comunidade, estão insuficientes. 

“A situação não está um pouco crítica, ela está bem crítica e a gente não está tendo suporte suficiente para trabalhar em cima disso. O que estamos precisando mesmo é mais suporte e o pessoal lá fora tem que ver o que está acontecendo na aldeia. Alguma coisa tem que acontecer aqui. É difícil e acredito que vai se alastrar ainda mais porque tem muita gente contaminada aqui”.

Ainda de acordo com Silva, além do aumento no número de casos a comunidade enfrenta outro problema para lidar com a situação: a situação de vulnerabilidade da grande maioria dos infectados. Isso, conforme relatado pelo líder indígena, faz com que muitos que testaram positivo não cumpram com o devido e necessário isolamento.

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“Essas pessoas estão em casa, mas precisam trabalhar e ter o sustento e aí fica difícil. Eles vêm nos perguntando o que podemos arrumar. Tem pessoas que a gente ajuda e quando não temos recorremos a alguém que possa ajudar. Na verdade, essas pessoas não estão cumprindo o isolamento como deveriam. Eles que sustentam a casa, muitos trabalham por diária ou têm emprego e não podem faltar, então tem gente indo trabalhar mesmo estando positivo de Covid porque está no desespero de ficar sem ter dinheiro para comer. E a gente não tem como controlar isso. Temos um ambiente aqui de total insegurança [no que diz respeito a Covid]”, alertou.

Procurado pelo Dourados News, o secretário municipal adjunto de saúde de Dourados e também responsável pela Vigilância Epidemiológica, Edvan Marcelo Moraes Marques, informou que o município acompanha de perto o desdobrar da situação do surto na Reserva Indígena, dentro de suas atribuições.

“A Vigilância contribuiu com entrega de 100% dos testes, disponibilizou três profissionais de enfermagem para auxiliar, encaminhou a desinfecção das unidades escolares com ajuda do exército e deu todo o suporte tecnológico no encerramento dos casos, acompanhando diariamente a evolução dos mesmos”, disse, mencionando ainda que serão intensificadas as ações para vacinação nas aldeias e que o acompanhamento da evolução dos casos é feito diariamente.

Com relação ao monitoramento dos infectados para estes cumprirem o isolamento de 14 dias previstos nos protocolos de biossegurança da Covid-19, Marques disse que essa é uma responsabilidade do Polo da Sesai (Secretaria de Saúde Indígena) em Dourados através de agentes comunitários de saúde.

A reportagem procurou também representantes da Sesai para um retorno e detalhes sobre como está sendo realizado o trabalho de enfrentamento aos casos de Covid dentro nas aldeias. Fomos informados por profissionais da saúde indígena que somente a assessoria de comunicação da secretaria é responsável pela emissão de informações do órgão. Direcionados para um contato com o Nucom (Núcleo de Comunicação) da Sesai em Brasília, por telefone, um servidor forneceu outro número, no qual tentamos contato por três vezes, sem sucesso.

Aulas nas escolas, onde primeiros casos foram identificados, estão suspensas inicialmente até o dia 8 deste mês

Aulas nas escolas, onde primeiros casos foram identificados, estão suspensas inicialmente até o dia 8 deste mês (Foto: Hédio Fazan/Dourados News)

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