O crédito destinado ao setor rural e agroindustrial no Brasil atingiu, no passado, R$ 219,7 bilhões, mantendo-se praticamente estável em relação ao ano anterior. No entanto, apesar do volume, houve uma redução no valor médio por operação, que caiu de cerca de R$ 193 mil para R$ 183 mil. Isso indica que, em média, as linhas de financiamento passaram a atender contratos menores.
Esse cenário reflete um ambiente de crédito mais restritivo, com juros elevados e exigência maior de garantias por parte das instituições financeiras. Como resultado, os produtores rurais, principalmente os pequenos e médios, passaram a buscar financiamentos menores para reduzir riscos, diante da maior dificuldade de acesso ao crédito.
A região Sul do país concentrou o maior montante liberado para crédito rural, seguida pelas regiões Centro-Oeste, Sudeste, Nordeste e Norte. Essa concentração está associada, em parte, à necessidade de recursos emergenciais em função dos impactos climáticos enfrentados, especialmente no Sul do Brasil.
Outro ponto que merece atenção é o crescimento no número de contratos realizados por produtores que não possuem registro rural formal, como arrendatários ou integrantes de grupos econômicos familiares, prática comum e legal no setor.
Enquanto o volume total de crédito permaneceu estável, a capacidade de pagamento dos produtores apresentou sinais de enfraquecimento. Indicadores de risco apontam para uma piora na situação financeira do setor, causada pelo aumento dos custos de produção, a manutenção da renda em níveis inferiores e maior endividamento. Esse cenário eleva a probabilidade de inadimplência e pressiona os agentes financeiros a adotarem políticas de crédito mais rígidas e onerosas.
Além disso, o risco associado às revendas de insumos agrícolas teve aumento significativo, o que pode comprometer a cadeia de fornecimento desses insumos essenciais para a produção.
A sazonalidade típica do setor, que costuma concentrar o maior volume de crédito no terceiro trimestre do ano, apresentou em 2024 uma movimentação mais uniforme ao longo dos meses, indicando uma demanda distribuída.
Esses dados mostram um setor que mantém sua importância econômica, mas enfrenta desafios crescentes para garantir o acesso a recursos financeiros em condições adequadas, especialmente para os pequenos e médios produtores que formam a base da produção agrícola nacional.
Segundo a Serasa Experian autora da pesquisa, a divulgação dos dados de crédito rural referentes a 2024 só ocorreu agora, quase no segundo semestre de 2025, porque esse tipo de levantamento demanda tempo para consolidação, cruzamento e validação de informações de múltiplas fontes.
Além disso, os dados precisam ser processados após o encerramento do ano fiscal e cruzados com indicadores de risco e produtividade. Também há uma estratégia de timing: a publicação ocorre em um momento de maior interesse do setor, como o início do novo ciclo do crédito rural.